sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Considerações sobre desequilíbrios cambiais

     Como já era esperado, apesar do consenso existente entre especialistas na área econômica da imperiosa necessidade de uma ação coordenada para enfrentar os desequilíbrios cambiais, a reunião do G-20 realizada na semana passada, na Coréia do Sul, terminou apenas com carta de intenções, promessas e sem ações.
     De um lado, os Estados Unidos, que não têm a menor intenção de subordinar a sua política econômica a considerações de ordem internacional. Ao contrário, as decisões americanas são voltadas claramente aos interesses e prioridades nacionais.
     Ainda que não queiram admitir, ao decidir injetar 600 bilhões de dólares na economia, estão buscando uma depreciação do dólar para sair da crise interna via exportação.
Na verdade, de acordo com muitos economistas, os objetivos desta ação seriam evitar a possibilidade de uma recessão ou estagnação prolongada com manutenção de altas taxas de desemprego ou, pior ainda, o fantasma de uma deflação.
Por outro lado, a China também não concorda em subordinar a sua política cambial a considerações de ordem econômica internacional.
     Nesse duelo particular, segundo especialistas, vantagem para a China, que escapou de ficar na berlinda devido à insistência em manter desvalorizada sua moeda, o Yuan, e ainda bloqueou no documento final uma proposta de Washington para que superávits ou déficits externos de grandes países não superassem 4% do Produto Interno Bruto.
     Com as duas maiores economias do mundo adotando políticas desse tipo, as perspectivas para o resto do mundo, particularmente para países emergentes, não são confortáveis. Nesta conjuntura, países com câmbio flutuante e conta de capitais relativamente aberta, como o Brasil, tendem a sofrer mais.
     Em artigo publicado no jornal O Globo, o economista e membro da diretoria do FMI Paulo Nogueira Batista Jr., sugere que na ausência de uma solução global, o país terá que adotar novas medidas de autodefesa e menciona algumas opções.
     Uma delas seria reduzir a taxa de juros interna. O elevado diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo contribui para atrair capitais e valorizar demais o real, solapando a competitividade da economia e ameaçando setores da indústria.
     O problema é que a economia brasileira está crescendo muito. A simples redução dos juros poderia levar a um aquecimento excessivo da demanda. O ideal seria, então, combinar um ajuste fiscal com taxas de juros menores.
     Mas isso não será suficiente. O próprio ajuste fiscal, na medida em que leve a uma melhora dos “fundamentos” da política econômica, pode atrair mais capitais do exterior.
    Uma outra alternativa, a acumulação adicional de reservas internacionais, padece de problema semelhante. A compra de moeda estrangeira pelo Banco Central diminui a pressão pela valorização do real. Mas o aumento das reservas reduz o risco associado a operações com o Brasil e pode atrair mais capital.
     Além disso, com os juros praticados no Brasil, a acumulação de reservas tem um custo fiscal elevado, que pode se tornar proibitivo. Isso porque a remuneração obtida com a aplicação das reservas no exterior é muito inferior ao custo da dívida pública que o governo emite para neutralizar o impacto monetário da compra de reservas.
    Parece evidente, portanto, que as políticas acima mencionadas terão de ser complementadas com medidas prudenciais e controles diretos sobre os fluxos de capitais. O governo brasileiro já tomou medidas desse tipo. Mas é provável que tenha que reforçá-las.
      A livre movimentação de capitais se torna impraticável quando o país, que é o principal emissor de moeda de reserva internacional, adota políticas monetárias ultra-expansivas.
     Adicionalmente, análise do Itaú Unibanco, afirma que não é só o Banco Central brasileiro que está preocupado com o excesso de dólares na economia e mostra que os BCs do México, do Chile, do Peru e da Colômbia estão afrouxando a política monetária para não aumentar o diferencial de juros em relação aos Estados Unidos. Na Colômbia e no México, as altas têm sido adiadas. No Peru, os juros pararam de subir depois de cinco altas, enquanto que no Chile o aperto foi menor que o esperado.
     Finalmente, alguns economistas sugerem a redução dos encargos trabalhistas como ferramenta essencial no combate a este problema cambial.
      Afirmam que não é possível continuar convivendo com encargos trabalhistas de cerca de 9% do PIB em nossa economia, enquanto a média de 16 países emergentes aponta para aproximadamente 4,5%, metade da nossa.
     Ao apresentar este conjunto de informações quero, na verdade, ofertar mais uma fonte para reflexão, pois mesmo havendo consenso de que a melhor solução seria a de uma ação coordenada e cooperativa de todos os países na busca do equilíbrio global, todos nós sabemos das dificuldades para atingir este objetivo.
     Portanto, enquanto isto não ocorre, precisamos aprimorar nossa estratégia de ação.

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